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☆ Poemas Urbanos e Sustentabilidade ☆



Diante da temática de tecnologia e sustentabilidade trazida pela primeira edição do evento Greenk Tech Show (Green Geek), a ocorrer dias 23, 24 e 25 de julho, o estande da Rádio Geek promoverá uma série de palestras e conteúdos sobre o assunto. Como parte da equipe produtora e apresentadora do Criador de Mundos, trago para vocês alguns dos poemas urbanos que serão explorados no domingo, dia 25, sob o viés da sustentabilidade, com o convidado especial Victor Rodrigues

Enjoy ;)
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Primeiramente, vamos entender melhor o que é sustentabilidade?


Sustentabilidade: Repensar as atividades exercidas em prol das necessidades humanas de forma que sua forma de execução não prejudique o futuro das próximas gerações. Em outras palavras, envolve a continuidade do desenvolvimento material e econômico sem trazer prejuízo ao meio ambiente.
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Natália Menhem: URBANOSE

urbanoise.
urbanose.
urbanoia.
urbe
noise.
urbe
é nois.

Muito interessante esse poema atual da Natália Menhem. Aqui a poetisa brinca com "noise", de barulho, "ose", como a terminação de uma doença, "oia", como em paranoia, e "urbe", que é o centro urbano em si. Terminando com o "é nois", o poema acaba por transmitir a mensagem do coletivo, da poluição sonora, do transtorno mental, da problemática, enfim, que surge com a grande quantidade de pessoas aglomeradas, e que acaba por exigir grande conscientização sobre conservação do espaço, harmonia, convívio em sociedade e sustentabilidade, é claro.
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 Mário Quintana: RELÓGIO

O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede:
conheço um que já devorou
três gerações da minha família.

Esse pequeno poema de Mário Quintana exibe a face maléfica do tempo e, nessa brincadeira com as palavras "animal" e "devorou", também contrasta o espaço selvagem com o humano. Eis que, conforme o tempo foi devorando o homem, também o homem foi devorando os recursos que tinha à sua disposição sem maior preocupação com um futuro sustentável. Vamos logo nos conscientizar porque, aprendendo "antes tarde do que nunca", há de se evitar que o tempo devore o que nos resta.
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Mário de Andrade: ODE AO BURGUÊS

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
“— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar… — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!…

Neste poema de Mário de Andrade, fica evidente a crítica relacionada, dentre outras coisas, ao consumo desembestado e supérfluo que, no contexto da sustentabilidade, é um grande problema a ser contornado, pois gera mais lixo e demanda maior uso dos recursos disponíveis. Deve-se, pois, evitar o desperdício e consumir com mais respeito e consciência.
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Amanda Reznor: RETRATO URBANO

Poeira, cimento, tijolo, ladeira
Lá vem a menina de bolsa na mão
Trabalha, mendiga, se vende, vagueia
Aguarda feliz a carona do irmão

Roubo, homicídio, resgate, cadeia
Se foi o menino com seu pé descalço
Fossa, buraco, olho d’água, sujeira
Aguarda infeliz por um reles abraço

Pombas, baratas, cachorros e ratos
Sol de rachar, é uma bela manhã
Chove à tarde, se entopem os ralos

Enchente, acidente, doenças e rãs
Chiado no rádio e na tevê à cabo
Tédio, velório e amor no divã.

Nesse retrato sobre a cidade, Amanda Reznor fala da diversidade e dos problemas que permeiam o cenário complexo da urbanização. Dentre as diversas questões a ponderar, entra a sustentabilidade que, nesse poema, é evidenciada pela poluição e pelo contraste de quando as necessidades humanas sofrem interferência das necessidades naturais (chuva).

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Emerson Alcade: OQUEELATINHA

A senhora estava andando pela rua quando caiu
O que ela tinha?
Tontura, dores, fome, frio?
Oqueelatinha?
Não se sabia. Ela não dizia o que tinha.
Nossa! Você viu?
Mas o que ela tinha?

Lá, tinha um cãozinho deitado tremendo de frio.
Latia, lambia a tia.
A multidão parou pra perguntar o que ela tinha
O que ela tinha?
Antes as pessoas não perguntavam o que ela tinha
Mas agora todos querem saber O QUE ela tinha

Lá tinha Si tinha Dó tinha Ré tinha Fá tinha Sol tinha
PRE tinha
Mas afinal o que é latinha?
Uma lata pequena - o antônimo de latão?
Não! Não? Não!?
A senhora morreu deitada no chão
Abraçada com a única coisa que tinha;
Suas latinhas

Esse poema de Emerson Alcade traz de forma incrível a realidade dos catadores de latinha que, embora estejam diariamente realizando um trabalho de sustentabilidade, não recebem maior atenção ou mérito por conta disso. A reciclagem e a coleta seletiva fazem parte da consciência sustentável e está relacionada a problemas sociais como esse exposto pelo poema de Alcade - a coleta de latinhas é tida como uma atividade suburbana, muitas vezes desprezada e mal remunerada.

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Victor Rodrigues e a CIDADE LINDA




Não posso nem pensar
em te perder de vista
nem consigo imaginar
outra em seu lugar

Preciso desses olhos secos
da garganta rasgada
das veias poluídas
sua estupidez que me apalpa
com esse toque de muitas mãos
que pede mas não quer
e um jeitinho de nunca dar
logo você
que não deseja e seduz mesmo assim
abre caminhos pra mim
como se fosse carinhar
como se eu pudesse querer
depois me joga pras beiradas
tentando esquecer
me provoca me sufoca
quando saio pra te ver
você que nunca me chama

está sempre atrasada

dorme um sono
acumulado e descoberto
pesado como seu concreto
não quer levantar da cama
sonha ser postal
e acorda de ressaca
vomitando fumaça
nos pés do policial

você é um boquete
às três da tarde
no verde da praça
a carteira a carreira
o vermelho no pelo

é tudo aquilo
que tenta esconder nos seus bueiros
tem também essa graça
tem também esse cheiro

uma pilha de corpos
manda homens e mulheres à guerra
que não voltam nem lutam
crianças são fruto bruto
duras feito pedra
chutadas feito lata
animais que te brotam do chão
disputam seus espaços tapa a tapa

você é meu quintal
e suas folhas caem de tédio

você todinha
é meu suicídio do alto do prédio

esse ir e vir de se perder
uma paisagem que não me olha

esse evangelho de placas
na entrada do paraíso a catraca
e um céu disputado que já não cabe oração
sem santa que se empreste
sem santo que se passe
nem reza que se preze
sem quem faça ou escute

estômagos roncando
junto aos motores
a sinfonia estridente
o assovio de uma boca sem dente
o berro do corre
o canto da sereia que afoga nos córregos
anúncios de promoção
cadeados e correntes

você não consegue parar
falta perna pra te alcançar
e chão pra te suportar

você é uma fila
que ninguém sabe onde vai dar

sei que no fundo queria estar sozinha

não lembro de te ver sorrir
não sei se sou feliz
algo diz que devo ficar
você diz que devo partir

mas eu perdoo seus golpes
eu recolho seus cacos
eu escuto seus sons

você minha pausa
você minha canção
allegro ma non troppo
nego mas não saio
pago o preço todo
pra te ter por perto
por costume ou prazer
e odeio como poucos
pois pareço com você

Esse belíssimo poema de Victor Rodrigues, retirado do livro "Aprender Menino", constrói paulatinamente uma figura humanizada da cidade com todos os seus problemas - o superpovoamento, a poluição, a pobreza, as doenças, as faltas e os excessos, tudo envolvido em uma espécie de ternura que emoldura a cidade, com todos os seus defeitos, na admiração e no rol das necessidades humanas. E onde tem necessidade humana, pois bem , já sabem, né? Há que se pensar em formas de sustentar toda essa beleza complexa, criando projetos que amenizem os danos e mantenham a cidade linda, relegando-a à posteridade.

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